sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

13.

Como queria ter tempo para poder ter tempo.

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

11.

Dá-me o teu peito, leito para os meus desejos e almofada dos meus medos. Sabes bem como me pesa a cabeça da estranheza do dia sozinho, dos segundos sem sussurros, da vontade de te dizer-tudo-aquilo-que-não-te-digo. Se estivesse no teu peito, podia dizer-te baixinho, à caixa torácica, o quanto quero gerir os meus dias pelas subidas e descidas dela. Soprar-te-ia, num murmúrio, o quanto te quero os dedos nos meus. Os pulmões, esses, deixariam o ar envenenado por esse pensar-em-ti-viciado.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

10.

Se me vieres à orelha, fala-lhe como se ela fosse virgem. Como se ela nunca te tivesse ouvido, a ti, ao carro que passa, ao tlim plim das portas que fecham com berloques pendurados, às unhas que arranham mesas, ao giz que já não escreve em quadros brancos. Se me vieres à orelha, não lhe digas o que ela quer ouvir. Depois ficarei com o zumbido, o eco; o eco que não vai mais embora, que martiriza, que dói. Não lhe digas que lhe queres bem, de boa saúde, de bom trato, de aspecto são. Ela pode acreditar.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

9.

Quero que a minha pele seja de galinha pelas frequências da tua voz.

domingo, 4 de novembro de 2007

8.

Quero beijar-te à sombra das tuas pestanas.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

7.

Tens a mania, tu. Tens a mania, que dizem dela ser uma meretriz. A puta da mania. Ris-te, descarado, olhos nos olhos, pés firmes, peito cheio daquilo que se diz ser confiança. És egocêntrico, manipulas, chamas para ti as conversas paralelas. Ouves, opinas, contestas, provocas. Provocas. Ah, como eu gosto quando o fazes. O olhar rasgado, o olhar que dança, o olhar que foge quando sabe que já não está sozinho. O sorriso maroto, o sorriso perverso, o sorriso que desarma, quando me agarra. És arrebitado, espevitado. Como eu gosto quando arrebitas, quando me enfrentas, quando não me ligas, quando não me apareces e me deixas assim. Queria dizer-te coisas, contar-te histórias, contar-te todas as coisas parvas que te digo, quando me esvazias da razão, quando me tiras a língua e a deixas sem abrigo. Como eu queria sentar-te a meu lado, só a meu lado, em cima daquela almofada que te acaricia a face todos os dias. Sentava-te ali, e não havia mais ninguém. Concorrência arrasada, fazia-te meu, enchia-me de ti até não mais poder. Tens a mania. Entras, enches-me as noites de coisas que não tenho, enches-me as noites de pensamentos parvos, enches-me as noites de solidão estúpida. Deixas-me parva, e assim te odeio. Odeio-te, por todas as vezes que os meus dedos quiseram escrever o teu nome sem te terem sentido ainda.

sábado, 6 de outubro de 2007

6.

Vem. Quero que me vejas. Quero que sintas a minha presença. Quero que me peças os números da minha vida, os endereços dos meus dias e que me visites. Quero fazer contigo todas as banalidades mundanas, os cafés em mesas anónimas, os guardanapos dobrados em barquinhos infantis, os silêncios esquisitos, as risadas incomodas, os erros embaraçosos. O cheiro a pipocas, os tickets de compras, os jantares desequilibrados, os convites com segundas intenções. Quero que me contes o teu primeiro dia de escola, o teu primeiro amor, o teu prato favorito, o teu modo de ver a vida, a morte, as bolachas, o crescer das ervas daninhas, a pavimentação das estradas. Quero pegar-te na mão e não ter medo do buraco-na-estrada, de acreditar na tua cor preferida e de te sentir o paladar. Quero adivinhar-te pelo cheiro, chamar-te com o pensamento e adormecer ao som do teu contar de estrelas.
Mas antes, quero que me vejas.