terça-feira, 23 de outubro de 2007

7.

Tens a mania, tu. Tens a mania, que dizem dela ser uma meretriz. A puta da mania. Ris-te, descarado, olhos nos olhos, pés firmes, peito cheio daquilo que se diz ser confiança. És egocêntrico, manipulas, chamas para ti as conversas paralelas. Ouves, opinas, contestas, provocas. Provocas. Ah, como eu gosto quando o fazes. O olhar rasgado, o olhar que dança, o olhar que foge quando sabe que já não está sozinho. O sorriso maroto, o sorriso perverso, o sorriso que desarma, quando me agarra. És arrebitado, espevitado. Como eu gosto quando arrebitas, quando me enfrentas, quando não me ligas, quando não me apareces e me deixas assim. Queria dizer-te coisas, contar-te histórias, contar-te todas as coisas parvas que te digo, quando me esvazias da razão, quando me tiras a língua e a deixas sem abrigo. Como eu queria sentar-te a meu lado, só a meu lado, em cima daquela almofada que te acaricia a face todos os dias. Sentava-te ali, e não havia mais ninguém. Concorrência arrasada, fazia-te meu, enchia-me de ti até não mais poder. Tens a mania. Entras, enches-me as noites de coisas que não tenho, enches-me as noites de pensamentos parvos, enches-me as noites de solidão estúpida. Deixas-me parva, e assim te odeio. Odeio-te, por todas as vezes que os meus dedos quiseram escrever o teu nome sem te terem sentido ainda.

Sem comentários: