sábado, 6 de outubro de 2007

4.

Posso abrir-te ao meio? Separar-te as costelas em dois? E espreitar. O coração, as artérias, as veias, o sangue que corre. O teu. Venoso, não venoso, os nutrientes, os sucos, as enzimas. Os alvéolos que incham, a bexiga que cresce, as articulações que estalam.
E sabes, ainda assim, continuaria a ver nada-de-ti. Tudo o que te transpira é movido por um algo maior. É esse algo que te brilha nos olhos, te sorri nos lábios, te tinge as bochechas, te molda cada arrebitar de cabelo. É essa espécie de essência que te faz tão longe daquilo que eu conheço, e ao mesmo tempo, tão perto no desejo de te querer aqui. De te ter aqui, de te dizer que já guardo os teus olhos desde a primeira vez que tos vi, de relance, a medo. Guardo-os aqui, roubei-os, sem que soubesses. Tenho tido vontade de lhes fazer perguntas, daquelas que só eles poderiam responder. Sou muda, por agora, de língua enrolada de medo de um olhos teus.

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